Artigo – Administradores dos bancos buscam nova forma de renda – Folha de São Paulo

Artigo publicado na Folha de São Paulo em 09/10/2012

O setor bancário tem cadeira cativa na berlinda. Há muito tempo a forma como ganha dinheiro é objeto de preconceito por boa parte da população e até religiões interferem no negócio (com a proibição à usura, por exemplo). A despeito disso, salvo alguns contratempos, os bancos vêm se virando bem.

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Nesse momento, vemos o governo brasileiro mais uma vez empenhado na redução dos custos financeiros cobrados dos consumidores.

Agora a atuação se dá por meio da chamada “regulação direta”, isto é, quando o poder público utiliza as “suas” empresas (as aspas são porque o Banco do Brasil tem outros acionistas) para controlar os preços que são praticados no mercado.

O primeiro desses preços, no caso em questão, é o do dinheiro, técnica e popularmente denominado juros.

Como esperado, os administradores das instituições financeiras foram procurar outras rendas para substituir as reduções de margens (“spreads”) impostas pela medida e, naturalmente, entre as opções estão as tarifas bancárias (ainda que após intensa normatização do Conselho Monetário Nacional com relação a elas).

Duas semanas atrás, os acionistas se preocuparam com o anúncio de reduções de juros pelos bancos privados. O governo também divulgou nova regulação direta com as tarifas do Banco do Brasil.

Resultado: as ações foram postas à venda e os bancos perderam valor de mercado.

Até aqui, vemos que o governo agiu, os administradores responderam e os acionistas se protegeram.

E você, o que tem feito? Sabia que é possível ter uma conta bancária sem pagar nada por mês?

Como não posso falar aqui de todas as possibilidades do consumidor livrar-se de tarifas, vou me concentrar ao caso dos pacotes oferecidos pelos bancos.

Grande parte das pessoas pensa que existe uma tarifa de manutenção de contas (proibida), quando, na realidade, está sendo cobrado um pacote de serviços bancários.

Quase todo consumidor acaba “contratando” o pacote de serviços sem saber que não é obrigado a fazê-lo.

Se não tiver o tal “pacote”, o que acontece? Você paga pelo que usar, mas tem acesso mensal gratuito a quatro saques, dez folhas de cheque (compensação é grátis), dois extratos impressos no terminal, duas transferências dentro do mesmo banco, além de consultas ilimitadas na internet (pode tirar quantos extratos quiser).

Quem faz transferências para outros bancos, vale comparar o preço das tarifas de DOC (Documento de Ordem de Crédito) e de TED (Transferência Eletrônica Disponível) -torno de R$ 8 na forma eletrônica-, com o do pacote de serviços que está sendo cobrado.

O que fazer para ter acesso a isso? Mande cancelar o pacote e controle suas operações. Afinal, pacote nem sempre é um presente.

HUMBERTO VEIGA é doutor em economia, consultor na área de legislação e regulação bancária e autor dos livros “Case com Seu Banco com Separação de Bens” (breve lançamento), “Tranquilidade Financeira”, pela editora Saraiva, e “O que as Mulheres Querem Saber Sobre Finanças Pessoais” pela editora Thesaurus.